Seja você o menino...


As cores, Deus as inventou quando menino, por certo.
E brincava com elas com a mesma paixão
e sem cerimônia de quem, um dia, ainda faria tudo que existe.
Misturando umas às outras e esparramando-as pelo firmamento,
punha-se a imaginar planícies e bichos,
montanhas e mar, passarinhos e canções, poentes e pirulitos.
Às vezes, quando não saía a correr com as luzes pelo infinito,
passava manhãs inteiras, fechado, em silêncio,
em seu universo, a encher-se de luz, a cada nova cor que descobria.
Ora lhe pareciam solenes, como deveriam ser as florestas,
ora preciosas como desejava pérolas e joaninhas.
Mas o que mais o encantava nas cores
era o fato de serem cores simplesmente,
e, todavia, brincarem com seus olhos,
darem asas a seus sonhos e povoarem sua alma de sentimentos.
Se um dia criasse o mundo, ele pensava, haveria de dar-lhe cores.
E se houvessem pessoas nesse mundo, haveria de dar a elas
a capacidade de perceberem, nas cores,
a mesma magia que ele testemunhava.
Percebê-las significaria terem as cores dentro delas:
almas coloridas, corações de aquarela.
Assim saberiam reconhecer na própria vida
toda maravilha que ela encerra.
 Outra vez, como num sonho,
teve uma visão de arco-íris.
 As próprias pessoas teriam o dom de serem cores.
 E de alegrarem-se umas às outras,
de encantarem-se umas às outras,
de amarem-se em gestos de luz.
A felicidade seria a tradução desse desejo.
Ah como ele gostaria de ver, um dia, todas as pessoas felizes.
Haveria cor em profusão, luzes em toda a terra,
nunca mais a escuridão.
Assim seja menino.

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