As cores, Deus as inventou quando menino, por certo. E brincava com elas com a mesma paixão e sem cerimônia de quem, um dia, ainda faria tudo que existe. Misturando umas às outras e esparramando-as pelo firmamento, punha-se a imaginar planícies e bichos, montanhas e mar, passarinhos e canções, poentes e pirulitos. Às vezes, quando não saía a correr com as luzes pelo infinito, passava manhãs inteiras, fechado, em silêncio, em seu universo, a encher-se de luz, a cada nova cor que descobria. Ora lhe pareciam solenes, como deveriam ser as florestas, ora preciosas como desejava pérolas e joaninhas. Mas o que mais o encantava nas cores era o fato de serem cores simplesmente, e, todavia, brincarem com seus olhos, darem asas a seus sonhos e povoarem sua alma de sentimentos. Se um dia criasse o mundo, ele pensava, haveria de dar-lhe cores. E se houvessem pessoas nesse mundo, haveria de dar a elas a capacidade de perceberem, nas cores, a mesma magia que ele testemunhava. Perc